Prezado (a) candidato (a),
O gênero conto de ficção científica mantém
certas características do conto. Trata-se de uma narrativa curta que apresenta
narrador, personagens, enredo, tempo e espaço. O conto constrói uma história
focada em um conflito único e apresenta o desenvolvimento e a resolução desse
conflito. A ficção científica lida principalmente com o impacto da ciência,
tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou sobre os indivíduos. Por
isso, inclui o fator ciência como componente essencial. Como gênero literário,
o conto de ficção científica apresenta histórias fictícias e fantásticas, mas
cuja fantasia propõe-se a ser plausível, quer em uma época e local distantes ou
próximos, quer mesmo no aqui e agora. Há uma tentativa de convencer o público
leitor de que as ideias que apresenta podem não ser possíveis no contexto
atual, mas poderiam ser no futuro, valendo-se de uma explicação científica ou
pelo menos racional.
TEXTO 1:
Quando o belo ganha a máscara da plástica
Pouco tempo atrás, a escritora americana
Stacy Schiff desfrutava uma linda tarde ao lado de um amigo francês que
visitava Nova York pela primeira vez. No fim do dia, porém, ele mostrou-se
intrigado. Queria saber o que havia acontecido com as pessoas mais velhas na
cidade. Seus rostos eram esticados demais, lustrosos demais. Em Paris, disse
ele, os velhos pareciam velhos – e não havia nada de errado nisso. A idade do
amigo francês de Stacy: 8 anos. Sim, até mesmo uma criança mais observadora
pode perceber que algo estranho vem ocorrendo. E não só em Nova York, é claro.
Basta ir a shoppings e restaurantes de qualquer grande cidade brasileira, como
São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, para deparar com pessoas de pele
alaranjada (sessões de bronzeamento artificial podem dar esse efeito), maçãs do
rosto salientes, testa estirada, lábios inflados e dentes branquíssimos, de uma
alvura inexistente na natureza. É um contingente que, pelo jeito, tende a
aumentar, graças aos avanços técnicos e ao barateamento dos procedimentos
estéticos. Ficou mais fácil, enfim, fazer uma intervenção atrás da outra – e
isso dá vazão à obsessão doentia pela manutenção da beleza e juventude. “O
resultado dessa obsessão são bizarrices produzidas por falta de bom senso não
só dos pacientes, como dos próprios médicos”, diz o presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo, João de Moraes Prado
Neto. Não há nada de errado em querer consertar uma falta de acabamento
congênita, melhorar a silhueta castigada pelo excesso de comida e pelo
sedentarismo ou atenuar as marcas do tempo. É uma forma perfeitamente
compreensível e legítima de conservar (ou restaurar) a auto-estima. Um nariz
menos adunco, uma ruguinha cancelada, uns quilinhos aspirados – e eis que a
beleza deixa de ser apenas a promessa de felicidade, para citar a frase do
escritor francês Stendhal. A questão é quando se exagera na dose. Tem-se aí uma
patologia. [...] O argumento por trás do tratamento preventivo é mexer um pouco
já para evitar grandes intervenções lá na frente. O resultado? Mulheres de 30
anos que se parecem com mulheres de 40 tentando aparentar 30. Esquisito? Sim,
esquisitíssimo, mas é o que vem ocorrendo. “Quanto mais intervenções são
feitas, mais rígida fica a pele. A paciente adquire as feições de uma estátua,
deixa de ter uma expressão natural”, disse à Veja o médico francês Yves-Gérard
Illouz, o inventor da lipoaspiração. Ficam todos – porque há inúmeros homens
que se enquadram nesse caso – assustadoramente iguais uns aos outros. Como se
tivessem saído (com defeito de fabricação) da mesma linha de produção. É a
máscara da plástica. BUCHALLA, A. P.
Veja. São Paulo, 2 jul. 2008. Especial,
p. 110-114. (Adaptado).
TEXTO 2:
As máquinas falantes
Qual a relação entre o corpo e o Eu: o corpo
é “propriedade” do Eu – costumamos dizer: meu corpo – ou se confunde com ele?
[...] afirmo que nosso corpo nos pertence muito menos do que costumamos
imaginar. Ele pertence ao universo simbólico que habitamos, pertence ao Outro;
o corpo é formatado pela linguagem e depende do lugar social que lhe é
atribuído para se constituir. [...] Se os corpos não existem fora da linguagem,
as práticas da linguagem determinam a aparência, a expressividade e até mesmo a
saúde dos corpos. [...] Observamos que os corpos se modificam por efeito do que
se diz sobre eles. Nossos corpos não são independentes da rede discursiva em
que estamos inseridos, como não são independentes da rede de trocas – trocas de
olhares, de toques, de palavras e de substâncias – que estabelecemos. [...] O
sujeito moderno, cercado e amparado por técnicas e saberes científicos que
visam lhe proporcionar saúde, bem-estar corporal e um adiamento indefinido da
morte, está ao mesmo tempo cada vez mais distante de saber escutar as demandas
e manifestações de seu corpo pulsional. Acostumado a adiar o prazer e a
satisfação de necessidades, já não é capaz de desfrutar da sexualidade, do
repouso, do ócio e das pequenas sensações provocadas pelo contato com a
natureza.
KEHL, M. R. As máquinas falantes. In:
NOVAES, A. O homem-máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2003. p. 243-256.
TEXTO 3:
Vaidade Nosso corpo não pode ser modelado e
remodelado apenas para satisfazer nossa vaidade. Isso pode nos levar à loucura,
ao fanatismo. As pessoas são diferentes entre si e aceitar essas diferenças é
um grande passo para que não façamos do corpo um estereótipo de beleza.
SILVA, F. M. da. IstoÉ. São Paulo, 23
jan. 2008, Cartas, p. 14.
TEXTO 4:
Velhice? Fica para mais tarde.
PROPOSTA:
Escreva um conto de ficção científica no qual você seja o
narrador-personagem. Imagine que, numa tentativa de prolongar sua vida e de se
manter eternamente jovem no futuro, você se submeta a uma técnica de
congelamento até o ano de 2200. Após esse período, seu corpo será descongelado
e integrado à sociedade. Construa um conflito que envolva ideias e valores
sobre o seu corpo e o das outras personagens com as quais você se relaciona no
futuro. Apresente justificativas para a ação de manipular o tempo na tentativa
de atingir a imortalidade. Por meio das ações e dos diálogos entre as
personagens, discuta as diferentes formas de vigilância e de controle do corpo nos dois tempos vividos
por você (antes do congelamento e após o descongelamento). A trama deve
basear-se em explicações científicas ou racionais que assegurem plausibilidade
à fantasia construí- da no conto
Instruções
gerais:
- NÃO assine seu texto.
- Utilize a norma culta da Língua
Portuguesa.
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